domingo, 24 de maio de 2009

Semana de "finals" no campus

É semana de provas finais. Não somente os estudantes, mas a cidade inteira começa a ficar com um clima tenso. Cafés e bibliotecas anunciam horários estendidos especiais, muitas destas passando a funcionar 24 horas para acomodar os freqüentadores que só aparecem nesta época do semestre. Alguns prédios adjacentes ao campus, pertencentes a organizações de estudantes e associações culturais ou religiosas – por exemplo, a associação de cultura judaica do campus – também abrem suas portas a alunos não associados, disponibilizando seus espaços para estudo até altas horas da noite. É uma forma de ganhar simpatia e visibilidade, numa universidade tão cheia de atividades, onde diariamente acontece, na praça central do campus, uma feira de eventos das associações, e onde os representantes das entidades disputam público interessado literalmente pelo gogó (tal qual as feiras de verduras e frutas no Brasil) ou através de alto-falantes, música e dança (pagação de mico...). Mas na semana de provas finais, até mesmo a feira deixa de existir. Todos, inclusive os representantes das associações, estão estudando em algum lugar.

Na International House, toda uma estrutura é montada para esta semana. Esta é a única época em que a regra de não aceitar alunos não-residentes é efetivamente checada na relativa pequena biblioteca. Por uma semana e meia, a regra do silêncio absoluto, 24 horas por dia passa a vigorar. Como muitas das regras existem só para ficar bonito no papel, ou para proteger os criadores contra eventuais processos judiciais que aleguem negligência (descobri que não é só no Brasil que muitas regras são criadas para serem consistentemente desrespeitadas...), a coordenação do IHouse quis explicitar que esta regra do silêncio absoluto vale de verdade. Fácil: 250 dólares de multa para os infratores, e os cartazes com a regra estão espalhados por todos os corredores dos 6 andares residenciais do prédio. Mas não é só de “cargas negativas” que é feita a semana de finals na IHouse. Das 21h às 4 da manhã, o restaurante com suas enormes mesas fica disponibilizado para aqueles que não encontrarem mesas suficientes na biblioteca (a janta termina às 20h, e o café da manhã começa às 7h15). Mais fofo ainda – eu achei – é a preocupação com a falta de açúcar dos alunos. Em todos os jantares, além da tradicional sobremesa – gelatinas, picolés e sorvetes – fica disponibilizado na saída do restaurante uma cesta cheia de Oreos (versão americana do Negresco) e outros doces diversos. Além disso, dado o cedíssimo horário em que se janta por aqui (18h é o horário padrão do jantar americano), todas as noites, das 23h à meia-noite, no grande salão do International House, é montada uma mesa cheia de frutas, “snacks” (salgados e doces) e bebidas, para o intervalo dos estudos da noite, ou para não ir dormir de estômago vazio e cérebro hipoglicêmico.

Todas estas medidas – das bibliotecas, dos cafés, das associações de estudantes, da IHouse e outros dormitórios do campus – só atestam uma coisa: a importância que todos dão para os estudos, para a dedicação às provas. Toda a sociedade nesta época disponibiliza tudo o que estiver ao seu alcance – pelo menos por uma semana no semestre – para que os alunos possam se dedicar integralmente. A responsabilidade para os estudos passa a ser uma tarefa de todos, mesmo aqueles minimamente relacionados às atividades acadêmicas (os funcionários dos restaurantes e dos cafés, por exemplo).

Mas talvez, por isso mesmo, alguns tendem ao exagero. Na quinta-feira véspera da semana de provas, e véspera de minha saída do IHouse, decidi passar a manhã no café, trabalhando de frente para a grande janela que dá para a rua (e de onde tirei a foto que está no blog sobre o café do IHouse). De repente, dois grandes caminhões do corpo de bombeiros, com as estridentes sirenes ligadas, estacionam na frente do prédio. O caminhão menor era na verdade uma ambulância (as ambulâncias daqui pertencem ao corpo de bombeiros). Dela saíram quatro paramédicos puxando uma maca, cada um por uma de suas extremidades. Pelo andar calmo e quase que descontraído, deduzi que não deveria se tratar de alguém que tenha dado um tiro no meio da testa ou cortado os pulsos, por ter ido mal nas provas. Os americanos são muito discretos, e pareceu-me que no café, só eu fiquei acompanhando, curiosíssima, a entrada dos paramédicos e da maca na IHouse. Dali a uns 20 minutos, os paramédicos saem do prédio puxando a maca, mas ... agora ela estava ocupada. Uma aluna asiática (ooooohhhh, que novidade!!!) com a cara pálida e quase que de choro, estava deitada nela. O grupo passa bem em frente da grande vidraça do café e fizeram o ziguezague da rampa. Agora, nem mesmo o mais falso apático americano poderia deixar de reparar: todos dentro do café levantam a cabeça, olhando a cena. Quando passaram bem na frente da minha mesa, reparei que a menina deitada na maca segurava duas folhas de papel. Fiquei me perguntando se era o resumo para a prova que ela não quis soltar de jeito nenhum, ou se eram papéis dados pelos paramédicos. Mas tive que dormir com a curiosidade, pois não consegui ver o que estava escrito neles... Assim que a maca com a menina foi colocada dentro da ambulância, um aluno americano não agüentou e falou alto para todos: “- Ela deve ter passado os últimos oito dias só estudando para as provas finais, sem comer nem dormir...” E deu uma risadinha de sarcasmo... Coitada! Há muitas coisas que ela ainda vai ter que aprender na vida acadêmica, pensei. Hoje mesmo, ela deve ter tido uma grande lição. Ou não.

Nos últimos dias da semana, já se viam alunos com lindas becas pretas, acompanhados de famílias vestidas elegantemente, flores nas mãos, caminhando em direção ao Teatro Grego, onde são realizadas as formaturas da UC Berkeley. A felicidade e o ar de superioridade pela missão cumprida estão explicitamente estampados em todas as caras, sem exceção. E não há viv’alma que os veja e que não concorde que eles têm direito a isso. Podem estar vestidos com as becas mais simples e os chapeuzinhos quadradinhos da graduação, ou as becas um pouco maiores e mais complexas do mestrado, ou as pesadas becas com as inconfundíveis três faixas de veludo preto nas mangas do doutorado, todos foram bem-sucedidos numa longa e árdua jornada. Eu confesso, do mais fundo do meu coração, que uma das maiores frustrações que terei nesta vida será não poder ter uma formatura de pós-graduação, e não ter a chance de vestir uma beca com aquele capuzinho colorido de Harry Potter atrás, e aquela boininha em formato de almofada de gato na cabeça. Não teria o menor problema de me sentir maravilhosamente ridícula por um dia...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bibliotecas...ah as bibliotecas! (parte 2)

O que dizer sobre a Law Library? Ela é o meu principal local de trabalho, meu lar (muito mais do que a IHouse, que fica do outro lado da rua), uma parte de meu ser aqui em Berkeley... Apaixonei-me no mesmo instante em que a vi, logo no primeiro ou segundo dia nestas terras. É como se o arquiteto tivesse feito o projeto atendendo fielmente aos meus desejos mais íntimos: ampla, pé direito alto, paredes revestidas de madeira clara, grandes janelões de um lado, belas coleções de livros de capa dura e letras douradas impecavelmente ordenadas, mesas de estudo enormes, sofás de veludo cinza escuro, e muito, muito iluminada. Sendo uma pessoa avessa a rotinas, ela conseguiu fazer-me vir para cá de segunda a segunda, com raríssimas exceções, desde a primeira semana de Fevereiro. Eu descobri uma rádio na internet onde só se tocam músicas de piano solo, extremamente suaves. Estar naquele ambiente da Law Library, no silêncio absoluto que as pessoas conseguem fazer ali, com os fones de ouvido emitindo as músicas de piano, enquanto eu estudo algo pelo qual tenho paixão, é uma das formas mais próximas de se materializar o Paraíso que já consegui.



Nesta biblioteca existe uma famosa coleção de livros sobre direito romano e direito canônico (o direito da Igreja Católica): a Robbins Collection. Fica numa sala especial, com mesas especiais, já que existem raríssimos exemplares datando do século 17, muitos deles em latim. Para melhor desenvolver o argumento em uma passagem de minha tese, enfurnei-me naquela sala por 2 semanas seguidas. A bibliotecária especialista já me conhecia; faltou ela me oferecer a chave da sala pra não ter que ficar tocando a campainha toda hora pra entrar... A única coisa não muito boa da Law Library é na hora em que tenho que procurar os livros nas estantes. Eles ficam nos andares de cima, pegando-se os elevadores. As salas do acervo são completamente desertas, frias e, para acender a luz, ligamos tipo um daqueles cronômetros de cozinha marcando os minutos. Findo os minutos pré-marcados, a luz se apaga. Sempre fico morrendo de medo de ir para estes andares e é impossível fazer o que mais gosto com um espírito leve: ler todos os títulos de uma estante, de cima para baixo, da esquerda para a direita. Lembra-me também dos andares da Memorial Library em Wisconsin, da ala sul dela, igualmente fria, deserta e com paredes verdes claras. Mas lá havia espaços exíguos com mesa e estante alugados semestralmente para alunos!!! Eu ficava me perguntando como alguém em sã consciência topava alugar um troço daqueles e ficar o semestre inteiro estudando lá!!!

Se eu pudesse descrever a Morrisson Library com poucos termos eu diria: é a coisa mais fofa que possivelmente existe no campus da UC Berkeley, e eu aposto que pouquíssimos alunos, principalmente de pós-graduação, a conheçam. Lanço o desafio para ver se algum aluno brasileiro já passou uma tarde lá (e olha que cada dia descubro um brasileiro que estudou por aqui...) Explico: uma bela sala de estar em estilo vitoriano, muita cortina, tapete, muitos sofás e poltronas deliciosas, lustres e abajures antigos bonitos, estantes e paredes também de madeira, mas de estilo clássico e não moderno como na Law, paredes repletas de livros, mas... se olhar de perto vai logo perceber a diferença: são todos romances, livros de artes, decoração, fotografia, história e também há muitos CDs e áudio-livros. Explicando mais: é proibido entrar com laptops e câmeras fotográficas por aqui. Explico finalmente: esta é uma biblioteca explicitamente dedicada à leitura de lazer, às horas vagas. Claro que se você quiser, pode trazer seu livro de bioquímica para ler aqui, ou pode escrever o seu paper sobre a sociologia dos moradores de rua nas grandes capitais modernas (a mão, sem laptop...), mas parece-me, numa rápida sondada, que poucos aqui têm este tipo de interesse... É neste local que se reúne a associação de poetas da cidade em seus encontros anuais. E foi aqui que passei três horas revirando dois livros de fotografia da cidade de Berkeley, conhecendo um pouco mais sobre esta cidade que está sendo meu lar nestes meses. Saí de lá com uma lista de “lugares para visitar”. Tenho cumprido gradualmente esta lista... (Não preciso dizer que Morrisson foi outro homem iluminado – um advogado neste caso – que deixou fortuna e livros para a universidade).


(Foto encontrada na web, já que reles mortais não podem entrar com câmeras lá dentro...)

Não dá para nem ao menos mencionar todas as outras bibliotecas que freqüentei no campus, tenho constantemente descoberto outras, de forma propositada. Talvez outra que mereça menção é um lindo, recém inaugurado (2008), em estilo muito moderno: a East Asian Library (meio contraditório o estilo do prédio com a cultura ali representada). Ao pisar nela, ninguém pode dizer que está numa universidade americana: quatro grandes andares de livros completamente escritos em chinês, japonês, coreano e afins, pinturas nas paredes também todos asiáticos, até mesmo o bibliotecário. Também estão disponíveis aos interessados bancos de dados inteiros com estatísticas destes países e de outros da região. Só digo uma coisa: é impressionante. Também é delicioso estudar no meio de modernas lanternas pseudo-orientais, perto dos grandes janelões de vidro olhando para o verde lá fora. Difícil é disputar os melhores lugares com os alunos orientais, que já estão todos ocupados 15 minutos depois da abertura da biblioteca na tarde de domingo...



Escrevendo este blog, descobri no site da universidade uma página entitulada “Secret Sites for Study”. A semana de finals está aí. Os alunos americanos, assim como os brasileiros (acho que do mundo todo), deixam para estudar tudo de última hora. Mesmo com as 27 bibliotecas e os quase 50 cafés, pode ser difícil encontrar lugares disponíveis para se estudar confortavelmente. Algum funcionário se deu ao bom trabalho de relatar quais são as bibliotecas – e os cafés!!! – menos lotados. Percebo nesta lista lugares que não entram na lista oficial de bibliotecas. Meus olhos brilham: mais lugares para conhecer! Estou louca para conhecer a biblioteca da Filosofia. Parece outra sala em estilo clássico, com ares de biblioteca das mansões onde ocorrem os assassinatos de Agatha Christie (foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça ao entrar na Morrisson).

Prevendo já a semana de finals, eu tinha anotado na agenda: sair do campus, ir para as bibliotecas públicas. E isso quase merece um capítulo a parte. Já conheço a sua fama, da primeira vez que vim para os EUA. Não basta dizer que elas, por algum motivo, são todas modernas, com móveis bonitos, bem iluminados, bem arquitetados (normalmente com mais de um andar). Não basta dizer que em todas elas há seção de revistas, CDs e livros infantis (sempre a seção mais bem estruturada), e que você pode pegar emprestado tudo de graça. Não basta dizer que as famílias passam sábados inteiros com seus filhos aqui. Além de tudo, é preciso dizer que, não é que exista uma belíssima biblioteca em todas as cidades americanas, por menor que a cidade seja. Existe uma belíssima biblioteca em CADA BAIRRO de uma cidade, por menor que ela seja. Veja bem, Berkeley tem uma área de 27,2 km2, ou seja, menor do que Pinheiros, Itaim e Jardim Paulista juntos. Entretanto, nela existem SETE bibliotecas públicas, sem contar com as 27+ que existem dentro da universidade... E isso não acontece somente porque estamos numa cidade de reconhecimento acadêmico mundial, ou no mais rico estado do país. Minha prima mora no meio do Midwest, numa cidade chamada Minnetonka. Alguém já ouviu falar dela? Nem eu, até alguns anos atrás. Mas hoje eu já conheço 3 bibliotecas públicas lá, sendo que devo ter passado uns 20 dias no total naquela cidadela. A primeira pergunta que me passou pela cabeça quando conheci as bibliotecas públicas de Minnetonka, vendo aquela beleza, aquela organização, ar-condicionado, móveis, etc. foi: “Como existe dinheiro público para tudo isso?” Demorou um pouco para eu encontrar a resposta. E no dia em que alguém a encontra, também vai saber responder àquela outra pergunta, que fiz no começo da primeira parte deste texto: por que os EUA são o país mais desenvolvido do mundo, enquanto o Brasil ainda tem que fazer muito esforço para provar que é um país de respeito. Alguém se arrisca? (Qual prefeito ou governador brasileiro ousaria anunciar publicamente que vai gastar milhões de reais para reformar as bibliotecas públicas de sua região?)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Bibliotecas...ah as bibliotecas! (parte 1)

Sem pudores, eu confesso com toda a franqueza do meu coração, que a primeira coisa que eu pensei quando cogitei em passar um ano fazendo “sanduíche” nos EUA não foi trabalhar com o professor fulano de tal, morar na cidade fantástica X, estudar no departamento Y, foi: “-Ó Meu Deus, ter as bibliotecas denovo!!!” Se me pedissem para indicar uma única diferença entre os EUA e o Brasil que explique porquê o primeiro seja conhecido como o país mais desenvolvido do mundo, e o segundo ainda tenha que fazer muito esforço para provar que é um país de respeito, eu não teria a menor hesitação em responder: as bibliotecas! Porque por trás de como as bibliotecas são, está toda a concepção de um povo, os valores da sua cultura, a forma explícita como a nação olha para seu passado, seu presente e seu futuro, e quais são as prioridades inquestionáveis. Quero deixar claro que as bibliotecas não se resumem às bibliotecas escolares – e aí, mais uma diferença entre os dois países. No próximo blog espero poder contar um pouco também sobre as bibliotecas comunitárias.

Como disse, antes mesmo de vir para cá, eu já estava excitada o suficiente com a perspectiva de poder passar todo o tempo do mundo nas bibliotecas. Na minha cabeça, estavam as lembranças das bibliotecas de Wisconsin, extremamente funcionais. Lembro-me da Memorial Library, a principal da universidade, com mais de 13 andares e corredores repletos de livros e que ficava nada menos do que 24 horas aberta durante todo o ano letivo, fechada apenas durante o Thanksgiving e no dia 1o de Janeiro. A outra que eu costumava freqüentar era a College Library, que tinha um expediente mais “curto”: das 7h45 da manhã até as 1h45, também da manhã (nunca vou me esquecer deste horário, apesar de nunca ter entendido os 45m). Todas com amplos laboratórios de computadores, super modernos (naquela época os alunos não tinham ainda laptops...) e muito, muito espaço para estudar em paz (os salões de estudo da College tinham janelões mirando para o lago da cidade). Eu sabia que Berkeley não me decepcionaria neste quesito... Pois assim que cheguei, percebi que além de funcionais, as bibliotecas (bem como outros prédios) são arquitetonicamente maravilhosas! Para mim, isso era (é) exatamente estar no paraíso! Para começar, são 27 bibliotecas no campus; um sistema com horários, localizações, mapas, sites e, mais ainda, base de dados eletrônicos tão complexos que honestamente, chega a ser meio assustador.

Obviamente, eu já tinha pensado em escrever um blog sobre as bibliotecas desde a primeira semana que cheguei. A grande culpada pela demora é a Doe Library, a principal da universidade, que abriga a coleção de Ciências Sociais e Humanidades. No primeiro dia em que a vi, eu fiquei de queixo caído, boca aberta, não conseguia parar de olhá-la, achava que estava no meio da Grécia. E eu não estava errada: muito tempo depois, fiquei sabendo que ela foi construída nos moldes do Partenão de Atenas.


Bem, e porque ela me fez demorar para escrever? Porque, olhando de fora, eu já vi que era um lugar gigantesco – isso porque eu não tinha visto os 4 andares por baixo da terra e que a conectam à outra biblioteca do outro lado da praça. Entrei timidamente num dos dias, mas fiquei com medo: eu iria me perder ali dentro com certeza! Para minha sorte, e não contrariando a organização norte-americana, há “tours” todas as semanas pela Doe Library. Por vários motivos, perdi todas elas até finalmente conseguir participar o do dia 30 de Abril. O tour demora nada menos do que uma hora. Logo na entrada, vemos uma escultura em tamanho natural de um dos intelectuais mais simpáticos dos EUA, morador por muito tempo de San Francisco:


(Mark Twain lendo seu próprio livro "Huckleberry Finn")

Resumindo o tour: são 10 milhões de livros (não parece, mas é muita coisa!), quatro andares, cada um com mais de 150 x 20 metros só de estantes de livros, algumas daquelas compactas, que se aperta um botão para que uma estante se afaste da outra (ocupam metade do espaço e, assim, cabem mais estantes num mesmo espaço). A Business Library de Wisconsin também tinha este sistema, e quando eu ia pegar livros ficava torcendo para que eles estivessem numa estante destas para que eu tivesse que apertar o botãozinho... Fora a dimensão da biblioteca, e o fato da inteligência da construção que soube aproveitar a luz natural e complementar com luz artificial de forma que os 4 andares de subsolo são iluminadíssimos, o que me deixou sem fôlego, controlando-me para não chorar de tão lindo, foi no segundo em que eu pisei nas salas de estudo da Doe, se é que aquilo podem ser chamados de “salas”:






(Os alunos não tinham acesso aos livros, faziam seus pedidos e aguardavam serem chamados pela "senha" no painel luminoso para pegarem o livro no balcão. Lembrou-me dos fast-foods das praças de alimentação dos shoppings no Brasil...)

Doe foi um “discreto” comerciante de San Francisco (diferentemente de Haas, o magnata que deu nome a várias coisas, inclusive à Business School). Quando ele morreu deixou simplesmente ¼ de toda a sua fortuna para a biblioteca. O prédio foi construído depois de uma competição, em que ganhou o projeto de Joan Galean Howard, que por sinal, construiu todos os outros prédios maravilhosos do campus. E, segundo um dos mais famosos presidentes da história da universidade, Benjamin Wheeler, o objetivo era ter uma “Atenas do Oeste” em Berkeley. Por isso, o Partenão, e por isso o busto de Atenas bem na entrada principal.


(O espírito de uma universidade!)


(Atena recepcionando todos que chegam ao seu "templo")

Mas Doe é apenas uma das 27 bibliotecas do campus, apesar de ser a maior. E eu certamente, com o objetivo bem claramente estipulado desde o início, não iria deixar de ir à procura de outras. Deixo a descrição das outras, inclusive das minhas duas favoritas, para o próximo blog.


Numa rara foto povoada, eu e Ben, este, cidadão Berkeleyano com orgulho, tirada pela Sra. Ben, minha irmã, Bruxa.