Episódio 1: A Cidade que Existe
“- Aonde você vai nas férias, Luciana?
- Para o Amapá.
(pausa) – Isso existe?”
(Conversa que se repetiu pelo menos quatro
vezes antes de eu partir para o Amapá)
Não me lembro exatamente quando e
como Thomas sugeriu pela primeira vez de irmos ao Amapá. Como já aconteceu
outras vezes, na verdade, essa seria a primeira parte de uma grand viagem que ele faria, incluindo a
passagem pela Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Roraima e depois, Manaus, para
voltar de avião a Sampa. Como sempre, alguém tem que trabalhar, e eu só poderia
fazer parte dos primeiros 15 dias do roteiro – daí, o meu destino escolhido.
Como sou curiosa, bastante flexível e gosto de conhecer coisas diferentes (não
importa o quê), não hesitei em que o acompanharia mais uma vez nessa viagem
mochileira-ecológica-sociológica.
Com a correria de fim de semestre
(que na verdade começou logo que o semestre começou...) o consciente nem se deu
conta da aproximação da viagem, mas consegui, nos últimos dias, dar uma espiada
em guias, depois que um amigo, que gosta de viagens “exóticas” como eu e
Thomas, disse ter lido recentemente um suplemento de viagens do “Estadão”
exatamente sobre o Amapá. Encontrei-o facilmente na rede. Com ele, minha
animação apareceu mais rapidamente.
O vôo até Macapá foi um pouco
estressante, já que tínhamos pouco tempo de escala em Belém e o avião saiu
muito atrasado de Guarulhos. Mas sempre esquecemos que a incompetência
normalmente é generalizada: se o vôo de Guarulhos atrasou, o de Belém atrasou
mais ainda. Chegamos no pequeno hotel de Macapá depois da uma da manhã. Dormi
imediatamente e tanto, que nem quis saber de acordar para o café da manhã no
dia seguinte. Quando acordei as 10h, Thomas não só tinha tomado café, como já
tinha ido ao supermercado e comprado garrafas de água mineral (obsessão dele em
todas as viagens, e em casa também...) e ido ao terminal rodoviário para
comprar as passagens para o interior. Haja eficiência...
Saímos naquela manhã de domingo
já sentindo o calor equatorial. Aliás, um dos poucos fatos sobre o Estado que
todos no resto do país parecem saber (além de que José Sarney saiu como seu
senador sem nunca ter morado lá...) é que exatamente sobre essa capital passa o
Equador. Assim, todo o restante do estado (Macapá fica ao extremo sul) estava
no verão em pleno Julho! E não é piada: todos os comerciais lembravam desse
fato, tão normal quanto o sol em cima de nossas cabeças...
A primeira impressão foi que
Macapá não tinha nada da ideia de cidadezinha pequena ou vilarejo que eu tinha.
(Aquilo que eu imaginei, efetivamente vi no interior do estado...) Era sim uma
cidade de porte médio, avenidas largas e muitas, muitas, muitas repartições
públicas! Essa foi a primeira impressão que tive e que se manteve ao longo de
tooooda a viagem, inclusive no interior do Amapá: o estado tem uma quantidade
im-pres-sio-nan-te de órgãos públicos principalmente federais, depois estaduais
e, em última medida, municipais.
Caminhando em direção ao centro
da cidade, dobrando uma esquina e... eis o maravilhoso Rio Amazonas! Pela
primeira vez na minha vida, eu o via na minha frente! Como senti-me um pouco
“enganada” porque no ano passado quando fui a Belém – achava que iria
encontrá-lo e não o encontrei (enganada pela própria absoluta e vergonhosa
ignorância...) – minha vontade de conhecê-lo aumentou mais ainda. E eis que
agora me aparece... do nada (minha ignorância novamente não havia me preparado
para o encontro). É realmente imenso, lindo, sem limites... O maior rio do
mundo estava na minha frente! O dia ensolarado tornava o grande rio mais lindo
ainda.
Toda cidade que tem alguma grande
massa de água tem uma vida efusiva à beira dela. É assim com cidade de praia,
com cidade de grandes lagos e, claro, com cidade à beira de grandes rios. (Essa
vida à beira da água é sinceramente o que eu mais sinto falta morando em São
Paulo.) No Macapá, não seria
diferente (nem as cidades do interior do Amapá): à beira do rio, há uma vida
diurna e, principalmente noturna, ma-ra-vi-lho-sa... Durante o dia, a imagem do
Amazonas, a brisa que nunca deixa de soprar, o céu sempre azul com nuvens
brancas (cúmulos-nimbos, é bom deixar claro!)... À noite, ah... a noite a coisa
pega fogo! Como toda cidade com temperaturas muito elevadas, nada funciona
durante o meio do dia (das 11h a mais ou menos 16h, 17h), e a vida aflora mesmo
a partir das 18h (vi isso acontecer de maneira explícita no interior do Peru).
Em Macapá, além dos restaurantes “chiques” de comidas típicas na Av. Beira Rio
do lado “de lá” do Forte São José, do lado “de cá” há diversos
restaurantes/bares mais populares, quiosques para simplesmente beber cerveja ou
água de coco, brinquedinhos para as crianças (incluindo uma piscina de lona
onde se pode andar de pedalinho), pistas para patins e quadriciclos onde as
famílias se divertem, e uma longa fileira, bem a beira do rio, de carrinhos bem
iluminados, todos vendendo... batata frita!!! É, infelizmente a culinária
amapaense não foi o forte que encontramos... (apesar de se localizar do lado do
Pará, onde se come muito bem). Mas é claro que eu não podia deixar de
experimentar as tais das batatas fritas, pelo menos no meu último dia em Macapá
(e quando Thomas já não estava mais comigo enchendo o saco do que eu como, é
claro...) O sabor não tinha nada de mais... Mas a sensação de estar sentada à
beira do Rio Amazonas comendo uma fritas dos famosos carrinhos da Beira-Rio de
Macapá... não tem preço!
Na “esquina” do Rio Amazonas (e é
engraçado, pois dá a impressão de ser uma esquina do rio mesmo...) está uma das
maiores atrações da cidade: o Forte de São José de Macapá. E ele é de fato uma
construção bem interessante: pentagonal (seu formato tornou-se símbolo do
estado, presente até na bandeira), com dezenas de canhões apontados para o rio,
para a cidade e para toda a região
em volta do forte; muito bem planejado, com 8 prédios onde se abrigariam as
casas dos oficiais, do padre e do médico, a capela, as moradias dos soldados,
lugares para guardar armamentos e comida, etc. Pena que nunca foi de fato
utilizado... Os franceses invadiram a região mesmo com a presença do forte...
(Mais dados interessantes sobre os 320 anos do Forte, com uma foto bem
interessante: http://www.correaneto.com.br/site/noticias/21462)
Pegando-se um ônibus municipal,
em menos de meia hora, pode-se chegar à “praia” da Fazendinha (um distrito da
capital). Praia é exagero, mas é uma área onde restaurantes se juntam numa rua,
e onde foi criada uma área com areia, quiosquezinhos e cabaninhas para as pessoas
poderem se divertir aos fins de semana à beira do rio. Mas o que efetivamente
gostamos, e o que fez com que nossa ida à Fazendinha valesse a pena, foi
sentar-se no último restaurante da rua e comer um peixe recheado com camarão. O
peixe é enrolado no formato de uma bola, com os camarões no seu interior, e
depois, frito (a foto do Thomas tentando comê-lo é hilária...). O restaurante
ficava do lado de uma entrada do Rio Amazonas. E do lado de lá, havia aquelas
casinhas tipicamente ribeirinhas da região Amazônica. O melhor do almoço foi
comer o peixe olhando para as pessoas que chegavam e saíam de canoas. Não sei
se foi apenas impressão minha, mas elas pareciam tão serenas, tão tranqüilas,
remando suas canoas debaixo do sol, naquela raminho do Rio Amazonas.... Bem
perto da gente, alguns meninos nadavam, brincavam e riam na água que parecia
quentinha... Depois, pegaram também um barquinho e foram remando para suas
casas, alegres, com uma preguiça tipicamente tropical...
Próximos episódios:
2) Paraísos Perdidos
3) Dias na BR
156
4) Nossos
vizinhos, os franceses